Ciro Gomes se compromete com a Auditoria da Dívida Pública

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Durante o seminário “Dívida Pública, desenvolvimento e soberania nacional”, realizado pelo Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (Semge-RS), o ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes se comprometeu com a investigação da dívida pública brasileira e criticou a política de juros adotada pelo governo.

A conferência, que contou também com a presença da coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, levantou pontos importantes sobre a política econômica adotada pelo governo ao longo dos anos, marcada por juros altos, beneficiamento do sistema financeiro, injustiça fiscal e serviços públicos cada vez mais precários.

Ao longo dos 15 anos de atuação, a Auditoria Cidadã da Dívida vem acompanhando todo o processo de endividamento público no Brasil e as políticas voltadas para a manutenção dos privilégios da dívida.

O trabalho de conscientização e difusão da informação sobre a dívida pública e suas consequências na vida das pessoas, passa também pelo acompanhamento e cobrança dos compromissos assumidos em nome da causa.

É importante levar o tema para os debates institucionais, políticos e também para os holofotes midiáticos, mas mais importante é colocar em prática e investigar a origem, legitimidade e legalidade de uma dívida que leva quase metade dos recursos do orçamento federal.

Nós, enquanto eleitores, consumidores e cidadãos registraremos todos os apoios declarados para que possamos acompanhar o posicionamento e cobrar ações daqueles (as) comprometidos (as) com a auditoria da dívida.

Leia abaixo a matéria publicada no Jornal do Comércio, escrita por Marina Schmidt.

Ciro Gomes assume compromisso com auditoria da dívida pública

“Não sou um neutro observador da cena nacional, posso até ser um candidato uma hora dessas.” Foi com essa frase que o ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes introduziu uma das falas mais aplaudidas da tarde de ontem durante o seminário Dívida Pública, Desenvolvimento e Soberania Nacional, realizado, ontem, pelo Sindicato dos Engenheiros (Senge) na Pucrs.
Participante mais aclamado do painel Crise Financeira, Infraestrutura e Desenvolvimento, o pedetista assumiu publicamente o “compromisso com a auditoria da dívida brasileira”. A declaração foi dada diante da principal defensora da questão, a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fattorelli, outra painelista que contribui para os debates em conjunto também com o ex-governador Germano Rigotto e o deputado estadual Luís Augusto Lara (PTB), que preside a Comissão de Finanças da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Irreverente e bastante entrosado com a plateia, que chamou com naturalidade de “companheirada”, Ciro falou dos bastidores político-econômicos do País, abordando acentuadamente o contexto da criação do Plano Real, que acompanhou de perto. Mas, para além dos risos que vinham do público em resposta às crônicas de personagens e passagens históricas, foi com muita seriedade que abordou problemas que, frisou, precisam ser enfrentados com urgência.
“Por que a Selic oficial está 14,25%, quando a inflação anualizada hoje é 7,3%? Ou seja, a taxa de juros real no País está crescendo diante do que seria, teoricamente, um governo populista. Durma-se com um barulho desses”, provocou. “Defender este governo é impossível. O que eu defendo, com entusiasmo, é a democracia.”
Ele aprofundou a reflexão incitando mais questionamentos: “por que o juro real está crescendo perto de 7%, e a banca já está cobrando um prêmio maior?”. “Porque o próximo ciclo é uma crise bancária”, respondeu, acrescentando que um efeito possível decorrente do cenário seria a emissão de dinheiro por parte do governo, o que elevaria a inflação. “Os bancos já estão precificando para colocar esse dinheiro no bolso o quanto antes. Precisamos desarmar essa bomba.”
Com críticas acentuadas à política de juros adotada no País, quem iniciou o painel na tarde de ontem foi Maria Lúcia Fattorelli. Exaltada como uma das integrantes da Comissão de Auditoria da Dívida Grega e aclamada pelos demais debatedores, ela refletiu, inicialmente, sobre a riqueza humana e natural do Brasil, para demonstrar as potencialidades do País em contraste com uma política econômica que, segundo explicitou em sua explanação, serve mais ao setor financeiro. “Mais de 45% do PIB de 2014 foi para o pagamento de juros e amortização da dívida”, demonstrou, recorrendo aos dados do Orçamento Geral da União daquele ano.
Diante do atual contexto econômico, Maria Lúcia sustentou que a crise econômica é seletiva, pois não afeta todos os setores de forma equivalente. “Os bancos estão crescendo”, sinalizou, criticando na sequência as escolhas feitas para enfrentar a recessão. Tendo o ajuste fiscal como remédio, pontuou, os efeitos são o corte de gastos sociais e dos investimentos com alta do endividamento público. Nessa linha, a especialista rechaçou o argumento de que a alta dos juros está sendo adotada para combater a inflação.
“É mentira, é absolutamente mentira que a inflação brasileira é de demanda”, reforçou, posteriormente, Ciro Gomes. “A nossa moeda tende a uma crônica desvalorização frente ao dólar, isso gera imediatamente uma miragem de inflação, em que os preços relativos mudam de patamar”, justificou. “Se eu mudo o patamar de câmbio, e o trigo passa a custar R$ 4,00 por dólar e não R$ 2,00 por dólar, qual é o efeito que a taxa de juros tem sobre esse aumento? Nenhuma.”
Terceiro a falar durante o painel, o ex-governador Rigotto se posicionou como um otimista em relação à superação dos desafios brasileiros. O País, salientou, congrega, além de suas potencialidades naturais e humanas, uma democracia sólida na comparação com outros países de projeção internacional, como a China. Reforçando que o momento é de serenidade, ele indicou que o País deve encontrar saídas constitucionais para a crise política que enfrenta.
O deputado estadual Luís Augusto Lara aproveitou a oportunidade para direcionar as reflexões sobre o tema para o atual acordo do governo federal com os estados para aliviar a pressão da dívida sobre as contas estaduais. Ele criticou que as medidas propostas, embora preservem parte do Tesouro, estejam condicionadas a contrapartidas que penalizam a população, como a redução dos investimentos e de contratação de pessoal, o que impacta pontualmente a segurança pública, evidenciou.